Primeiros passos com Arduino

No post anterior, a gente aprendeu o que é o Arduino e o que ele pode fazer. É chegada a hora de colocar a mão na massa. Nosso primeiro projeto tem duas etapas. Na etapa inicial vamos fazer um led piscar. Na etapa seguinte, iremos controlar manualmente a frequência das piscadas do led usando um potenciômetro.

Para executar todo o projeto você dos seguintes itens:

  • Placa Arduino UNO
  • Protoboard
  • Um led de qualquer cor (evite led infravermelho, senão não conseguiremos enxergar)
  • Um resistor (usei um de 330 Ohms)
  • Alguns fios condutores
  • Um potenciômetro (apenas para a 2a. parte)

Obs.: Para iniciar no mundo Arduino é recomendável algum conhecimento básico de circuitos elétricos e de programação, pois fica mais fácil entender a montagem do circuito. Mas se você não tiver experiência prévia, basta seguir este tutorial o mais fielmente possível que tem tudo para dar certo.

Passo 1: baixe e instale Arduino IDE

Já sabemos que o Arduino é um microprocessador que executa um único programa (chamado de firmware). Este firmware pode ser escrito em vários plataformas de desenvolvimento (Arduino IDE, Processing, Scratch) que vocês instala no seu computador. Não sei dizer se existem vantagens/desvantagens comparativas entre as plataformas. Eu utilizo o Arduino IDE, pois é mais comum, e a única que eu tenho experiência. Para baixar o Arduino IDE, clique aqui. Baixe a versão adequada para o seu sistema operacional (Windows, Mac OS, Linux). Eu uso Mac OS, mas este tutorial também serve para as outras plataformas.

Passo 2: Monte o circuito (1a. parte)

Monte o circuito de acordo com o diagrama abaixo. Tome muito cuidado para encaixar as extremidades de cada component no lugar indicado para que o circuito esteja fechado.

Figura 1

Passo 3: Conecte o Arduino ao computador

Aqui você vai conectar o seu Arduino ao computador usando o cabo USB que veio junto com o Arduino. Ao conectar o Arduíno o sistema operacional (SO) vai detectar um novo dispositivo em uma das portas seriais do computador.

Abra o Arduino IDE. Uma janela de projeto vazio vai abrir automaticamente. Os projetos são chamados de sketch pelo Arduino IDE. A linguagem de programação do Arduino é muito similar a C/C++.

Figura 2: Janela de um sketch vazio. Note que o sketch foi renomeado como uno_pisca_led.

Precisamos informar ao Arduino IDE qual o tipo de placa Arduino que vamos usar (ele não detecta o tipo de placa automaticamente), e em qual porta serial. O Arduino Uno é a placa usada neste projeto. Para configurar a placa, acesse o menu TOOLS/BOARD/ARDUINO AVR BOARDS/ e selecione Arduino Uno, conforme mostrado na Figura 3.

Figura 3: Selecionando o modelo da placa Arduino.

O Arduino IDE também precisa saber em qual porta serial a sua placa está conectada. Para isso, acesse o menu TOOLS/PORT/ e selecione a porta correta entre as opções listadas. No Windows, estas portas são nomeadas como COM1, COM2, COM3 e assim por diante. No linux/Mac estas portas possuem nomes estranhos que lebram o nome de um diretório. Por exemplo, no meu computador a porta serial na qual meu Arduino Uno está ligada chama-se /dev/cu.usbmodem141101. A esta altura, você já deve estar com o sistema todo pronto para começar a escrever o código.

Passo 4: Código

A Figura 2 (acima) mostra que a estrutura básica de qualquer sketch Arduino é formada por duas rotinas principais: setup() e loop(). A rotina setup() é executado apenas uma única vez logo após o Arduino ser ligado. Aqui é importante fazer a inicialização necessária dos componentes e sensores do seu projeto. Esta etapa assemelha-se àquele monte de programa que é executado assim que você liga seu computador.

Depois de executada a rotina setup(), o Arduino passa a executar a rotina loop() de forma contínua enquanto o Arduino estiver ligado. Aqui a gente codifica as instruções que queremos que o Arduino execute ininterruptamente.

Antes da rotina setup(), é necessário declarar algumas variáveis ou constantes globais que serão utilizadas no interior de cada rotina.

// Definição das entradas (pins)

const int LEDpin = 3;  //  define o pino digital 3 como saída do led   

Aqui apenas uma constante chamada LEDpin recebe o valor 3 que é justamente a porta lógica do Arduino que iremos ligar e desligar para fazer o LED piscar. A rotina setup() tem a seguinte forma:

 void setup() {
  // coloque aqui o código de inicialização que será executada apenas uma vez.

  pinMode(LEDpin, OUTPUT); // configuração do pino 3 como saída
 }

Esta rotina apenas informa ao Arduino que a porta lógica 3 (representada pela constante LEDpin) vai funcionar no modo de saída (OUTPUT), ou seja, não vamos ler o conteúdo desta porta, mas sim escrever o conteúdo dela. Como trata-se de um porta lógica, podemos escrever nela apenas os valores ligada ou desligada.

Finalmente chegamos na rotina loop():

void loop() {
  // coloque aqui o código que vai ser executado repetidamente. 

  digitalWrite(LEDpin,HIGH); // liga o pino 3
  delay(500);                // espera 500 mili-segundos
  digitalWrite(LEDpin,LOW);  // desliga o pino 3
  delay(500);                // espera 500 mili-segundos
 
}

Esta rotina será executada continuamente. Em cada chamada, a rotina executa 4 passos. Primeiro escrevemos na porta LEDpin o estado ligado. Isto vai ligar o LED. Daí, solicitamos ao Arduino para esperar 500 ms antes de passar para o próximo comando. Durante este tempo, o LED ficará ligado. Depois desligamos a porta LEDpin, que apaga o LED, e mais uma vez avisamos para o Arduino esperar 500 ms. Durante esta segunda pausa, o LED fica desligado. Como não há mais nenhum comando, a rotina loop() é finalizada, para então ser chamada novamente, executando todo o ciclo liga o LED, espera 500 ms, desliga o LED, espera mais 500 ms. O ciclo será repetido indeefinidamente enquanto o Arduino estiver ligado. Finalmente o código completo fica:

// Definição das entradas (pins)

const int LEDpin = 3;  //  define o pino digital 3 como saída do led   

 void setup() {
  // coloque aqui o código de inicialização que será executada apenas uma vez.

  pinMode(LEDpin, OUTPUT); // configuração do pino 3 como saída
 }

void loop() {
  // coloque aqui o código que vai ser executado repetidamente. 

  digitalWrite(LEDpin,HIGH); // liga o pino 3
  delay(500);                // espera 500 mili-segundos
  digitalWrite(LEDpin,LOW);  // desliga o pino 3
  delay(500);                // espera 500 mili-segundos

}

Copie o código completo acima e cole na janela do seu sketch, que deve ficar assim:

Figura 4: Sketch com código completo.

Passo 4: Compilar e carregar o código para o Arduíno

Para compilar o código clique no menu SKETCH/VERIFY/COMPILE/ conforme mostrado na Figura 5., ou clicar no ícone na barra superior da janela do sketch (ver Figura 4). O Arduino IDE vai analisar o código para ver se não nenhum erro, e gerar uma versão executável do programa.

Figura 5: Compilando o sketch.

Se o código for compilado sem erro, A mensagem “Done compiling.” vai aparecer na barra inferior da janela de sketch. o último passo a ser executá-lo é transferir o programa para o Arduino. Para isso, clique no menu SKETCH/UPLOAD (veja Figura 5) ou clique no ícone na barra superior da janela de sketch (Figura 4).

Se tudo ocorrer bem, vaia aparecer uma mensagem “Done uploading.” na barra inferior da janela de sketch. o código vai ser carregador para sua placa Arduino, e o LED vai começar a piscar.

Note que a frequência da piscada é fixa, e único jeito de mudar isso é modificar o comando delay(500) na rotina loop(), compilar e fazer novamente o upload do código para a placa.

Passo 5: Montagem do circuito (parte 2)

Acredito que tudo tenha dado de certo até agora, e que você tenha sem empolgado para incrementar um pouco mais a complexidade do projeto. Vamos agora faz modificar o circuito da parte 1 para incluir um potenciômetro para controlar a frequência da piscada. Veja o diagrama abaixo:

Figura 6: circuito com LED e potenciômetro.

Se você já tem alguma prática com circuitos, vai perceber que temos dois circuitos separados. Um circuito para o LED controlado pelo pino digital 3, e um segundo circuito para o potenciômetro. Os terminais mais externos do potenciômetro estão ligados ao pino de 5V e ao aterramento do circuito (GND). A resistência interna é controlada girando-se o seletor do potenciômetro, e pode ser monitorada conectando-se o terminal do meio ao pino analógico A0.

Enquanto uma porta digital (nos modos INPUT ou OUTPUT) pode ter somente os valores “ligada” (HIGH) e “desligada” (LOW), uma porta analógica pode ter qualquer valor entre um valor máximo e um valor mínimo. Como o Arduino Uno possui uma arquitetura interna de 10 bits, as portas analógicas podem medir 1024 (210) valores possíveis, entre 0 a 1023. Para este projeto específico, estes valores representam as resistências mínima e máxima do potenciômetro. A ideia é utilizar a leitura do potenciômetro para determinar a frequência de piscada do LED.

A esta altura você certamente já está mais íntimo de como o Arduino IDE trabalha, então vamos direto ao código:

// Definição das entradas (pins)

const int LEDpin = 3;  //  define o pino digital 3 como saída do led  
const int POTpin = A0;  // define o pino analógico A0 como entrada do potenciômetro   
 

 void setup() {
  // coloque aqui o código de inicialização que será executada apenas uma vez.
  
  // configuração do pino 3 como saída
  pinMode(LEDpin, OUTPUT); 

  // inicializa a saída serial do Arduino
  Serial.begin(9600); 
  
 }

void loop() {
  // coloque aqui o código que vai ser executado repetidamente. 

  // define duas variáveis inteiras
  int valorPot, intervalo;

  // lê o valor do pino A0 (0 a 1023)
  valorPot = analogRead(POTpin); 

  // calcula o intervalo de delay do LED
  intervalo = 100 + valorPot;

  // imprime na porta serial uma mensagem mostrando
  // o valor do pino A0 e o intervalo calculado
  Serial.print("Leitura do potenciômetro: ");
  Serial.print(valorPot);
  Serial.print("    Intervalo (ms): ");
  Serial.println(intervalo);
  
  // liga o pino 3
  digitalWrite(LEDpin,HIGH); 
  
  // espera em mili-segundos definida pela variável intervalo
  delay(intervalo);          

  // desliga o pino 3
  digitalWrite(LEDpin,LOW);  

  // espera em mili-segundos definida pela variável intervalo
  delay(intervalo); 

}

Note que a diferença entre este e o código da primeira parte do projeto é mínima. Alguns poucos comando foram adicionados ao sketch original. Antes da rotina setup(), nós declaramos a constante POTpin para representar o pino A0. Dentro da rotina setup(), existe o comando que inicializa a saída serial para que possamos monitorar o valor lido no pino A0. Dentro da rotina loop(), nós fazemos a leitura do pino A0, usamos este valor para determinar os intervalo entre as piscadas do LED, e mostramos uma mensagem com a informação medida na porta serial. Depois destas instruções, o ciclo acender/esperar/apagar o LED começa. Note que o tempo da piscada do LED varia entre 100 ms e 1123 ms, dependendo do estado do potenciômetro.

Assista aqui o vídeo de demonstração do projeto:

Conclusões

Este foi um post longo pois assumi que alguns leitores podem nunca ter tido contato com o Arduino. Daí a decisão de escrever este post no estilo tutorial. É importante esclarecer que o projeto aqui descrito é bastante introdutório, e o Arduino é capaz de realizar tarefas muito mais complexas do que as descritas acima. Apesar de simples, este projeto possui todos os elementos necessários para desenvolvermos muitos projetos educacionais.

Não pretendo descrever tudo o que é possível ser feito com o Arduino. O objetivo é utilizá-lo em projetos educacionais, e vamos incorporando novos componentes e novas formas de usar o Arduino à medida que a necessidade surgir. Para quem quiser se aprofundar mais, há na internet muitos tutoriais de como usar o Arduino e seus shields.

Laboratório de ciências com Arduino

No post anterior, eu descrevi minhas motivações para criar este blog. E uma das mais importantes foi ter sentido a necessidade de incorporar elementos da cultura maker em minhas aulas de Física. E assim, tentar provocar os estudantes a realizarem/desenvolverem seus próprios experimentos científicos.

Ciências e experimentos

As ciências naturais (Física, Astronomia, Geologia, Biologia) estudam as leis que governam o mundo natural através de métodos científicos, cujos pilares são dados quantitativos. Neste aspecto, a Matemática não é um ciência natural pois sua validade não é determinada por experimentos científicos, mas sim uma linguagem descritiva dos fenômenos naturais. Por exemplo, Newton inventou o Cálculo para descrever o movimento dos corpos. Para os interessados em se aprofundar um pouco mais nesta discussão, sugiro este capítulo do famoso livro The Feynman Lectures on Physics.

A importância dos experimentos científicos para obter dados quantitativos é melhor descrita pela célebre frase de Lord Kelvin (aquele da escala de temperatura Kelvin): “medir é saber”. Lord Kelvin acreditava só temos conhecimento daquilo que conseguimos medir e expressar esse conhecimento em números. Se não conseguirmos medir algo, pouco ou nada sabemos sobre ele.

Para construir experimentos científicos é necessário compreender o que são grandezas físicas e suas unidades. Algumas grandezas físicas são tão fundamentais que são descritas em termos de como são medidas: comprimento, tempo, massa e temperatura. Nem é preciso se esforçar muito para explicá-las pois são tão fundamentais que já estão incorporadas ao nosso senso comum. Outras grandezas físicas são determinadas, por exemplo, em função das grandezas fundamentais como é o caso da velocidade (distância percorrida por unidade de tempo), e aceleração (variação de velocidade por unidade de tempo). Há muitas outras grandezas, e uma discussão mais completa sobre grandezas físicas e suas unidades de medida foge um pouco do objetivo deste post.

Nos experimentos científicos, as grandezas físicas são medidas por sensores, e armazenadas para posterior análise de diferentes formas. No passado, as grandezas físicas eram medidas e anotadas em um caderno de laboratório. Em muitos laboratórios de ensino, esse ainda é o método dominante. Pelo lado pedagógico até que faz sentido fazer tudo manualmente. Nos coloca no mesmo lugar que os gigantes da ciência estavam 50, 100 ou 200 anos atrás. Por outro lado, estes avanços científicos evoluíram muito lentamente justamente porque os pesquisadores do passado ainda tinham de projetar os equipamento para realizar a medidas, e só depois podiam se concentrar no fenômeno natural que os deixou curiosos inicialmente.

Hoje temos muitas opções tecnológicas que certamente os pesquisadores do passado teriam usado para acelerar suas descobertas. E podemos fazer isso sem perder a essência do pensamento científico envolvido na construção de experimentos.

Atualmente, a base tecnológica mais simples para desenvolver experimentos para medir grandezas físicas com uma rápida e suave curva de aprendizado é o Arduino.

O que é o Arduino

Placa Arduino UNO

Arduíno é uma plataforma de microprocessadores muito utilizada em projetos eletrônicos devido a sua versatilidade e simplicidade. O Arduíno é amplamente utilizado tanto em projetos comerciais como em projetos educativos.

Microprocessador é outro nome para um tipo de computador altamente especializado que roda apenas um único programa chamado firmware. Um microprocessador não possui monitor, mouse e nem teclado, mas possui uma pequena memória interna que representa o seu disco rígido, e é onde o firmware fica armazenado. Por outro lado, o Arduino possui muitas entradas lógicas onde podemos acoplar circuitos externos, sensores, pequenas telas de LCD, pequenos botões de comando e outros acessórios. Estes acessórios para Arduíno são conhecidos como shields.

O Arduino também pode se comunicar com outros dispositivos e até mesmo com a internet, dependendo do tipo de shield acoplado a ele. E é justamente esta flexibilidade de comunicação que torna o Arduino uma das plataformas mais utilizadas nas aplicações do tipo Internet da Coisas (ou IoT – Internet of Things). Um outro grande atrativo é o baixo custo. No Mercado Livre, Um placa do tipo Arduino UNO custa aproximadamente R$ 50,00, e um kit para iniciantes (placa mais alguns componentes e sensores) aproximadamente R$ 150,00. Podem ter certeza, vale o investimento!

Para conhecer melhor as potencialidades e aplicações Arduino, clique aqui.

Física com Arduino

A flexibilidade de comunicação e a variedade de shields e sensores disponíveis torna o Arduino uma plataforma muito poderosa para construção de equipamentos de laboratório de ensino e/ou pesquisa científica. Segue abaixo uma lista de tipos de componentes disponíveis e algumas ideias de aplicações:

ComponenteIdeias de aplicações
Sensores ópticosDetectar de passagem de um objeto; medir velocidade; detectar mudanças na iluminação, detecção de cores
Sensores de temperaturaMedir temperatura ambiente/atmosférica, temperatura da água em diferentes estados físicos, medir temperatura dos objetos, medir condutividade térmica em metais
Sensor piezoelétricoDetectar sons, vibrações ou choques mecânicos, emissão de ondas sonoras
Sensor ultrassônicoMedir de distâncias
Sensor de gasesMedidas de poluição ambiental (CO, CO2)
Sensor de flexãoMedidas de força
AcelerômetroAceleração, orientação espacial e mais um monte de dados de dinâmicos do movimento dos corpos

Com essa variedade de sensores, podemos facilmente construir experimentos simples para demonstrar conceitos físicos como:

  • Velocidade média e velocidade instantânea,
  • Aceleração média e aceleração instantânea,
  • A aceleração da gravidade,
  • As leis de Newton,
  • Conservação do momento linear,
  • Transferência de calor entre corpos com diferente temperaturas,
  • A natureza periódica das ondas mecânicas,
  • Funcionamento de motores elétricos,
  • Conversão da energia solar em energia elétrica,
  • E muito, muito mais.

Conclusões

A lista de sensores e componentes disponíveis é grande demais para ser descrita, e todo dia novo sensores são lançados no mercado. As aplicações possíveis são limitadas APENAS por nossa criatividade.

É necessário dizer também que o Arduino não é um microprocessador em particular, mas sim uma plataforma de desenvolvimento. Há uma grande variedade de modelos, de vários tamanhos, com maior capacidade de processamento, mais entradas lógicas, e até mesmo com comunicação wifi já embutida. O tipo e o tamanho de placa depende muito do tipo de aplicação a ser desenvolvida. O custo também varia, mas a simplicidade e flexibilidade de desenvolvimento independe do modelo de placa.

Imagino que este post apenas introdutório possa ser um pouco frustrante já que descreve apenas o que pode ser feito, e não como as coisas são feitas. Vamos seguir adiante com calma. O Arduino tem sim uma curva de aprendizagem rápida, mas também possui alguns passos iniciais que devem ser dados com cuidado, especialmente para os iniciantes.

Nos próximos posts, vamos explorar exemplos práticos de grandezas físicas que podemos medir com Arduino.

Por que um blog sobre ciência e educação?

No primeiro post, nada mais justo do que falar sobre os motivos que me levaram a criar este blog. 

A pandemia de COVID-19 parou o mundo, e o ensino migrou do presencial para o online em poucos dias. Do nada, professores precisaram aprender novas formas de lecionar, e os alunos precisaram incorporar novas formas de estudar e aprender.

Aulas remotas na pandemia

No início, o jeito simples parecia ser replicar o ensino presencial de forma online, agendar uma reunião no Zoom ou Google Meet na hora da aula presencial, compartilhar a tela do computador, e começar a aula. Daí pensei nos estudantes sentados na frente de uma tela por horas a fio. Seria cansativo e entediante, sem contar as dores nas costas.

Tenho certeza que muitos alunos fizeram isso kkkk

Achei melhor gravar as aulas teóricas para que eles pudessem assistir na hora mais conveniente. As aulas síncronas eram para tirar dúvidas, resolver exercícios, e aplicar provas. As aulas síncronas de resolução de problemas eram ótimas. Muita interação, muitas dúvidas. Era comum as aulas terminarem mais de meia após o horário e ainda haver 60% da turma presente. Esta forma mais confortável para eles, me permitia aplicar provas quinzenalmente e manter alto o engajamento da turma com a disciplina. Assim o fiz, e deu certo.

Mas rapidamente fiquei com a sensação que estava tudo meio robotizado. Faltava aquele toque sutil que só a interação pessoal em sala de aula, nos corredores, na mesa da cantina e da caminhada até o ponto do ônibus permitia. eu sentia que os alunos não estavam sendo desafiados academicamente falando.

Experimentos nas aulas remotas

No semestre seguinte, tentei incorporar alguns experimentos nas aulas online. Houve um dia específico que considero um divisor de águas. Em uma aula de mecânica dos fluidos para os calouros de engenharia, improvisei um experimento para demonstrar o efeito da pressão atmosférica baseado na altura da coluna de água usando utensílios que eu corri para buscar na cozinha. Visualmente o experimento funcionou e foi um sucesso! Mas ao calcular a pressão atmosférica, obtive um erro enorme. Fiquei um pouco encabulado, e pensei: “eu devia ter parado onde deu certo…” kkkkk

Minha vontade quando a estimativa da pressão atmosférica deu errado.

Mas foi interessante discutir as razões do erro. Era óbvio que num experimento feito às pressas seria impossível criar um vácuo quase perfeito no alto da coluna de água e assim obter uma pressão atmosférica com menos de 5% de erro nominal. Passado o susto, comentei com os estudantes como fazer o experimento em casa, o que podia dar errado, e o impacto disso no valor da pressão atmosférica. Se eles fizeram, não sei dizer. Mas fiquei satisfeito no final. Dizem que um erro ensina mais que um acerto, e isso ficou bastante claro para mim nesse dia.

Percebi ali a vantagem de estimular o estudantes a realizarem seus próprios experimentos usando os recursos que tivessem em casa ou, na pior das hipóteses, com materiais de custo acessível. Mas não bastava ser algo apenas visual, do tipo truque de mágica. Seria desejável que os experimentos conduzissem a medidas com valores razoavelmente corretos, e que a própria construção do experimento ajudasse na compreensão do assunto. 

Cultura maker em aulas de Física

Mas peraí, aulas práticas de laboratório existem para isso! É verdade, mas estas aulas também pararam, e se reduziram a assistir vídeos de demonstrações e simulações em aplicativos web. Mesmo presenciais, aulas de laboratório são roteirizadas ao extremo. Não à toa, muitos alunos acham perda de tempo fazer os relatórios das aulas práticas. 

Seria interessante incorporar aspectos da cultura maker (ou DIY – Do It Yourself) no ensino de Física. Mas não há muito material disponível em português, e que era necessário produzi-los. Como eu já sabia postar aulas no Youtube, o mais natural parecia ser produzir vídeos de experimentos e postá-los. Contudo, produzir vídeos de boa qualidade no Youtube é muito complicado. Presto aqui uma reverência aos Youtubers. Roteirizar, produzir e editar vídeos de qualidade é muito difícil. 

Assisti um monte de vídeos de experimentos, vídeos do tipo “como fazer…”, aprendi bastante sobre como as pessoas consomem conteúdo na internet, e cheguei a conclusão que eu não teria tempo nem talento suficiente para ser roteirista, produtor audiovisual, professor, pesquisador, orientador, e ainda ter vida pessoal.

Blog é flexibilidade

Escrever é algo bastante natural para mim, pois faz parte da profissão escrever relatórios e artigos científicos. Daí veio a ideia de criar um blog. 

Mas surgiu a pergunta: “Alguém lê blog? Tem muito texto, e as pessoas preferem vídeos.” 

Passei um tempo pesquisando sobre blogs, e se blogs educacionais são relevantes. Foi uma grata surpresa saber que mundo dos blogs é criativo e dinâmico, mesmo com crescimento exponencial das plataformas audiovisuais (vídeo, podcasts e redes sociais).

Blog são mais flexíveis. Eles permitem textos mais descritivos com equações, códigos-fonte em Python, textos curtos mais informais, textos no estilo tutorial, e ainda combinar tudo isso com recursos audiovisuais. Um blog oferece mais opções para integrar as ferramentas da educação convencional com a ferramentas da revolução digital que estamos vivenciando.

Os rumos da educação em um mundo conectado

A educação da forma como conhecemos vai mudar. E pandemia acelerou demais essa transição. A educação online vai ganhar cada vez mais peso, e a educação presencial será re-posicionada no médio prazo. Novas instituições surgirão, e as que não se adaptarem se tornarão obsoletas. Novas profissões vão surgir, e outras vão desaparecer. E nós, professores e alunos, precisamos nos adaptar e desenvolver uma sólida formação científica e tecnológica. Soma-se a tudo isso os problemas estruturais e desigualdades históricas em nosso país que enfrentamos diariamente.

Finalmente, decidi embarcar na ideia deste blog e usá-lo não apenas como uma ferramenta auxiliar para minhas aulas, mas principalmente para contribuir com a troca de experiências educacionais e com uma cultura mais científica em nosso país.