Por que um blog sobre ciência e educação?

No primeiro post, nada mais justo do que falar sobre os motivos que me levaram a criar este blog. 

A pandemia de COVID-19 parou o mundo, e o ensino migrou do presencial para o online em poucos dias. Do nada, professores precisaram aprender novas formas de lecionar, e os alunos precisaram incorporar novas formas de estudar e aprender.

Aulas remotas na pandemia

No início, o jeito simples parecia ser replicar o ensino presencial de forma online, agendar uma reunião no Zoom ou Google Meet na hora da aula presencial, compartilhar a tela do computador, e começar a aula. Daí pensei nos estudantes sentados na frente de uma tela por horas a fio. Seria cansativo e entediante, sem contar as dores nas costas.

Tenho certeza que muitos alunos fizeram isso kkkk

Achei melhor gravar as aulas teóricas para que eles pudessem assistir na hora mais conveniente. As aulas síncronas eram para tirar dúvidas, resolver exercícios, e aplicar provas. As aulas síncronas de resolução de problemas eram ótimas. Muita interação, muitas dúvidas. Era comum as aulas terminarem mais de meia após o horário e ainda haver 60% da turma presente. Esta forma mais confortável para eles, me permitia aplicar provas quinzenalmente e manter alto o engajamento da turma com a disciplina. Assim o fiz, e deu certo.

Mas rapidamente fiquei com a sensação que estava tudo meio robotizado. Faltava aquele toque sutil que só a interação pessoal em sala de aula, nos corredores, na mesa da cantina e da caminhada até o ponto do ônibus permitia. eu sentia que os alunos não estavam sendo desafiados academicamente falando.

Experimentos nas aulas remotas

No semestre seguinte, tentei incorporar alguns experimentos nas aulas online. Houve um dia específico que considero um divisor de águas. Em uma aula de mecânica dos fluidos para os calouros de engenharia, improvisei um experimento para demonstrar o efeito da pressão atmosférica baseado na altura da coluna de água usando utensílios que eu corri para buscar na cozinha. Visualmente o experimento funcionou e foi um sucesso! Mas ao calcular a pressão atmosférica, obtive um erro enorme. Fiquei um pouco encabulado, e pensei: “eu devia ter parado onde deu certo…” kkkkk

Minha vontade quando a estimativa da pressão atmosférica deu errado.

Mas foi interessante discutir as razões do erro. Era óbvio que num experimento feito às pressas seria impossível criar um vácuo quase perfeito no alto da coluna de água e assim obter uma pressão atmosférica com menos de 5% de erro nominal. Passado o susto, comentei com os estudantes como fazer o experimento em casa, o que podia dar errado, e o impacto disso no valor da pressão atmosférica. Se eles fizeram, não sei dizer. Mas fiquei satisfeito no final. Dizem que um erro ensina mais que um acerto, e isso ficou bastante claro para mim nesse dia.

Percebi ali a vantagem de estimular o estudantes a realizarem seus próprios experimentos usando os recursos que tivessem em casa ou, na pior das hipóteses, com materiais de custo acessível. Mas não bastava ser algo apenas visual, do tipo truque de mágica. Seria desejável que os experimentos conduzissem a medidas com valores razoavelmente corretos, e que a própria construção do experimento ajudasse na compreensão do assunto. 

Cultura maker em aulas de Física

Mas peraí, aulas práticas de laboratório existem para isso! É verdade, mas estas aulas também pararam, e se reduziram a assistir vídeos de demonstrações e simulações em aplicativos web. Mesmo presenciais, aulas de laboratório são roteirizadas ao extremo. Não à toa, muitos alunos acham perda de tempo fazer os relatórios das aulas práticas. 

Seria interessante incorporar aspectos da cultura maker (ou DIY – Do It Yourself) no ensino de Física. Mas não há muito material disponível em português, e que era necessário produzi-los. Como eu já sabia postar aulas no Youtube, o mais natural parecia ser produzir vídeos de experimentos e postá-los. Contudo, produzir vídeos de boa qualidade no Youtube é muito complicado. Presto aqui uma reverência aos Youtubers. Roteirizar, produzir e editar vídeos de qualidade é muito difícil. 

Assisti um monte de vídeos de experimentos, vídeos do tipo “como fazer…”, aprendi bastante sobre como as pessoas consomem conteúdo na internet, e cheguei a conclusão que eu não teria tempo nem talento suficiente para ser roteirista, produtor audiovisual, professor, pesquisador, orientador, e ainda ter vida pessoal.

Blog é flexibilidade

Escrever é algo bastante natural para mim, pois faz parte da profissão escrever relatórios e artigos científicos. Daí veio a ideia de criar um blog. 

Mas surgiu a pergunta: “Alguém lê blog? Tem muito texto, e as pessoas preferem vídeos.” 

Passei um tempo pesquisando sobre blogs, e se blogs educacionais são relevantes. Foi uma grata surpresa saber que mundo dos blogs é criativo e dinâmico, mesmo com crescimento exponencial das plataformas audiovisuais (vídeo, podcasts e redes sociais).

Blog são mais flexíveis. Eles permitem textos mais descritivos com equações, códigos-fonte em Python, textos curtos mais informais, textos no estilo tutorial, e ainda combinar tudo isso com recursos audiovisuais. Um blog oferece mais opções para integrar as ferramentas da educação convencional com a ferramentas da revolução digital que estamos vivenciando.

Os rumos da educação em um mundo conectado

A educação da forma como conhecemos vai mudar. E pandemia acelerou demais essa transição. A educação online vai ganhar cada vez mais peso, e a educação presencial será re-posicionada no médio prazo. Novas instituições surgirão, e as que não se adaptarem se tornarão obsoletas. Novas profissões vão surgir, e outras vão desaparecer. E nós, professores e alunos, precisamos nos adaptar e desenvolver uma sólida formação científica e tecnológica. Soma-se a tudo isso os problemas estruturais e desigualdades históricas em nosso país que enfrentamos diariamente.

Finalmente, decidi embarcar na ideia deste blog e usá-lo não apenas como uma ferramenta auxiliar para minhas aulas, mas principalmente para contribuir com a troca de experiências educacionais e com uma cultura mais científica em nosso país.

2 thoughts to “Por que um blog sobre ciência e educação?”

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